Fortnite: com “zero de ping”, condomínio em SP atrai profissionais – globoesporte.com

Um oásis de 800 mil metros quadrados em meio ao concreto da Região Metropolitana de São Paulo, com ampla área verde preservada, mais de 900 casas de alto padrão. E internet rápida. São essas as características de um condomínio de São Bernardo do Campo que é referência para profissionais ligados ao Fortnite. Lá, moram 19 jogadores, entre criadores de conteúdo e produtores audiovisuais ligados ao esporte eletrônico.

As origens são as mais diversas – há pelo menos um representante de cada região brasileira morando no condomínio. Todos atrás do tão sonhado “zero de ping”. Quanto mais próximo o jogador estiver do servidor do Fortnite, que fica na capital paulista, mais rápido um comando chega ao servidor. Morando em São Bernardo do Campo, o comando dos jogadores chega instantaneamente. O que dá certa vantagem nas competições.

Essa vantagem atraiu até gente de fora do país. E gente de peso. O argentino K1ng, um dos maiores nomes do esporte eletrônico, se mudou na última semana para o condomínio. Ele e outros dois conterrâneos vieram a São Paulo exclusivamente para ter melhor qualidade na conexão de internet.

Os profissionais moram em quatro casas diferentes. O ge passou uma tarde no condomínio e mostra agora como eles estão divididos. A ordem das casas foi escolhida a partir da data em que os jogadores foram se mudando. Drakonz, Master e Lasers não participaram da entrevista.

Da esquerda para a direita: Brunão e Spitflow — Foto: Caio Prestes

A história do Fortnite no condomínio começou no início deste ano. Os jogadores profissionais Drakonz e Master alugaram a primeira casa, que vamos chamar na reportagem de Casa 1, em janeiro de 2020. Além da dupla, moram por lá a mãe de Master, e também os recém-chegados Brunão e Spitflow.

– Eu morava em uma favela, uma quebrada do lado de um condomínio igual esse aqui. Ficava olhando e pensando que da hora morar num lugar desse – disse Brunão, que é de Campinas, no interior do estado.

– O que eu mais curto daqui, é que eu consigo trabalhar 200%. Aqui eu fico longe dos problemas familiares, que eu já tive em casa, eu fico totalmente focado no trabalho – completou.

Spitflow é um dos brasileiros menores de idade que mora no condomínio do Fortnite. E, aos 17 anos, teve que fazer um trabalho de convencimento com a mãe.

– Eu tive que ficar falando pra ela durante um mês inteiro, porque eu nunca saí de casa – contou.

– Pra mim foi tranquilo de adaptar porque eu não estou sozinho. Mas ela veio me trazer de carro lá de Florianópolis e foi embora chorando – disse Spit, que divide o dia entre os treinos, e as aulas à distância do terceiro ensino médio.

– Às vezes a gente quer ficar até mais tarde acordando, jogando, de resenha, mas não dá. No máximo duas da manhã ele tem que estar se preparando para ir deitar – revelou o amigo Brunão.

Da esquerda para a direita: Ghost, Blackoutz, Ingrid, CaioX e Pedrão — Foto: Caio Prestes

A segunda casa foi formada em março deste ano, pouco antes do começo da pandemia. O jogador profissional Blackoutz, que morava na zona leste da capital, decidiu se mudar para o condomínio para ter mais estabilidade para trabalhar.

– Foi uma escolha minha sair de lá. Tinha muito roubo de fio no bairro, então a gente ficava sem luz pelo uma vez por semana. Ficava um dia inteiro sem poder trabalhar. Fora quando não era a internet que caía – disse.

Blackoutz se mudou com o pai, a mãe, o irmão, os amigos Ghost e Pedrão, além da namorada Ingrid. CaioX chegou um pouco depois. E hoje todos são considerados filhos pela dona Eunice, a mãe de Black. E pra quem antes era sogra, passou a ser muito mais que isso para Ingrid.

– Enquanto a gente tá trabalhando no quarto ela entra, oferece um cafézinho, um lanchinho. E até as chamadas de atenção são bem de mãe e filho mesmo. ‘Tá fazendo muito barulho de madrugada, não deixa a luz acesa, passa o pé no tapete’. É uma segunda mãe mesmo – disse a jovem influenciadora de 24 anos.

– Foi muito bom, eu aceitei todos como meus filhos. Tenho um carinho muito grande por eles. São muito bonzinhos. Todos educados. Quando eu vejo alguma coisa que está errado eu só comento, né. Mas de boa, os meninos são todos tranquilos – revelou a mãe de Black, Eunice Garcia, que durante a entrevista passava um café para os filhos postiços.

O filho que mais dá trabalho, segundo ele mesmo, é o criador de conteúdo CaioX. Ele veio de Limeira, no interior de São Paulo, para morar longe dos pais pela primeira vez.

— Eu sou meio bagunceiro, meu quarto fica daquele jeito. Mas é bem tranquilo, já me acostumei. O problema é que eu sou esquecido. A tia Eunice fala “traz o cesto de roupa suja na segunda-feira”, chega na segunda eu não sei nem o que é cesto de roupa suja e não tenho nem calendário pra ver se é segunda mesmo – revelou.

Mesmo com uma nova mãezona em São Paulo, o sul-mato-grossense Ghost, que é streamer e editor responsável pela maioria dos vídeos da casa, conta que sente saudade dos pais que ficaram no Centro-Oeste do país.

– É mais difícil quando eles vêm me visitar e depois vão embora de novo. Porque eu acostumo, mas acaba sendo tranquilo. Eu acho que minha mãe sofre muito mais do que eu, mas eu sinto falta, com certeza, não tem como não sentir falta – contou.

Para Blackoutz, o filho oficial de Eunice, dividir a mãe não é problema.

– Eu estou acostumado já, porque eu já tinha morado com duas pessoas na minha casa antes. É uma convivência que estou acostumado. É como se cada um morasse sozinho, só que junto – contou.

A casa 3 é a mais populosa, e também a única sem nenhuma mãe morando junto. A única mulher entre outros seis homens dispensa o título de “mulher da casa”.

– A gente não se trata como eu sendo a mulher da casa, a gente se trata todo mundo como amigo e todo mundo tem que obedecer regras. Mas não me tratando como a dona da casa, mas como uma amiga que tá sempre junto. É tudo completamente igual – disse a influenciadora digital Nathye, que veio de Goiás.

Da esquerda para a direita: Diamondd, Nathye, Pulga, 4ndreata, Juanzin e Thome. — Foto: Caio Prestes

Ela e o namorado Pulga moraram por quase nove meses na Casa 1 antes de inaugurarem a Casa 3, em setembro deste ano. E o motivo da mudança não foi se verem livre de um “adulto responsável”.

– Tinha um tempo que a gente queria sair de lá. A gente queria morar sozinho, mas como a gente foi passando o tempo aqui, estamos perto da maior parte dos nossos amigos, e é um lugar muito bom de se morar, aí a gente preferiu continuar aqui mesmo. Então chamamos mais gente pra divisão dos valores caber no bolso de todo mundo – disse o jogador profissional Pulga.

Um dos que foram convidados é o gaúcho Thome, de 18 anos. Além da conexão melhor e do zero de ping, morar em uma casa fez toda a diferença para ele. Por causa do barulho.- Eu tinha sido expulso do meu apartamento lá no sul por causa de barulho de madrugada, mesmo sussurrando meus vizinhos escutavam. Aí vim visitar aqui pra passar uma semana só, pra jogar o campeonato no zero de ping. Só que cheguei aqui e não parava de escutar “fica aqui, fica aqui, é melhor pra ti”. E fiquei – contou Thome.

O catarinense Diamondd gostou da experiência de morar em casa pelo mesmo motivo de Thome. Mas, para ele, o problema não eram os vizinhos.

– Meu quarto era do lado da minha mãe. Então mesmo eu falando bem baixinho, ela me mandava mensagem de madrugada pedindo pra eu ir dormir. Aqui eu posso berrar à noite – explicou Diamondd.

O também sulista Juanzin, o único da casa que joga no console, já tinha o objetivo de se mudar para São Paulo. Foi só o convite pintar para morar na Casa 3, que ele não teve dúvida.

– A gente já falava há um tempo atrás, eu e o Diamondd, que assim que tivesse a oportunidade a gente iria arrumar alguma coisa em São Paulo pra ter essa vantagem do ping. Aí quando teve essa oportunidade, nem pensamos duas vezes e viemos – contou o jovem Juanzin, de 19 anos.

Com tanta gente que vive dos esportes eletrônicos no condomínio, sobrou até um quarto pra quem não joga profissionalmente. Mas que vem ajudando os jogadores em outro ramo.

– Eu vim pra cá mais pra trabalhar como filmmaker, eu faço a filmagem de todo mundo aqui, produzo os vídeos de todos. Vim passar um tempo, produzi o vídeo de um deles, o pessoal gostou e decidiu me contratar pra ser filmmaker de todo mundo, gravar vídeo de todo mundo – disse 4ndreata, jovem do interior de São Paulo.

Para Pulga, o fundador da Casa 3, o sonho de morar no condomínio vai além da boa conexão de internet.

– Quando eu falei que estava me mudando, vieram vários jogadores pedirem para pelo menos passar um tempo aqui. Nem que a gente tivesse um depósito sobrando, um quadrado parado aqui, a maioria deles imploram pra vir ficar. É mais que o zero de ping, é ter toda a rapaziada amiga aqui junta – completou.

Da esquerda para a direita: K1ng e Xown — Foto: 4ndreata

A quarta e última casa foi alugada na última semana. Os argentinos Gorilon, K1ng e Xown vieram ao Brasil justamente para jogar mais perto do servidor do Fortnite.

– Vim para competir a zero de ping e demonstrar meu maior nível. É a primeira vez que venho ao Brasil – disse K1ng.

A vizinhança ajudou na escolha pela casa em São Bernardo do Campo. Foi Nathye, da Casa 3, que ajudou com toda a burocracia para a vinda dos argentinos.

– Todos do condomínio que jogam Fortnite são muito gente boa, nos tratam bem demais – responderam K1ng e Xown.

A dupla deve ficar por aqui até o final da FNCS, em dezembro. E a nova casa parece já ter cumprido parte dos planos – pelo menos de K1ng. Na primeira semana classificatória da competição, ele venceu 11 das 12 partidas na primeira competição jogando a zero de ping. Tanto que os jogadores de seu trio, Seeyun e Rustyk já planejam uma mudança temporária para jogar a grande final no início de novembro.

No dia da entrevista, Gorilon ainda não havia se mudado para o condomínio.

Como usar o novo código de código Creador: MOKOKIL1

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