“Olha… é o e… o elétrico da Honda! Muita giro… parece que saiu, tipo, do Minecraft!” A afirmação feita com admiração e curiosidade intensa surgiu assim mesmo, espontânea e simples da boca da Maria, a minha filha que, aos onze anos e habituada a ir conhecendo as novidades automóveis que vão passando cá por casa em resultado do trabalho do pai, nem por isso deixou de reagir perante este pequeno elétrico da Honda, associando-o a um jogo de vídeo jogado por milhões de crianças e adolescentes que, curiosamente… nem tem carros.
A questão é que o conceito deste pequeno modelo da Honda encaixa que nem uma luva naquele jogo, onde tudo o que mexe é construído de uma forma simples e “cubista”. Depois, se jogos de vídeo e computadores apelam para a realidade tecnológica que preenche cada vez mais a realidade dos mais jovens, este Honda e é um verdadeiro cocktail de tecnologia, aparecendo no mercado com o mesmo potencial de atração do mais recente telemóvel da Apple ou da Samsung, só para dar conta das marcas que se digladiam pela liderança daquele mercado que cada vez mais se cruza com a realidade do mercado automóvel em tantos cenários.
Em termos práticos estamos perante o primeiro automóvel 100% elétrico que a Honda coloca na sua linha de produção, um pequeno veículo citadino construído exatamente para a realidade das grandes cidades e de quem nelas vive. A autonomia não é o ponto forte do Honda e, mas adapta-se ainda assim a quem não precisa de se “atirar para fora de pé”, que o mesmo é dizer que será suficiente para quem não precisar de fazer muitos quilómetros em estrada. De acordo com o construtor, o Honda e tem uma autonomia de 218 quilómetros, o que acaba por ser mais do que suficiente para dois ou três dias de “vida útil automóvel” no trânsito urbano, mesmo se no ensaio realizado para o LusoMotores a unidade cedida pela marca tenha disponibilizado uma autonomia nunca superior aos 180 quilómetros.
Ágil e irrequieto o quanto baste
No Honda e, cujo funcionamento e consequente disponibilidade começa logo que nos sentamos ao volante sem precisarmos de carregar em nenhum botão, ficou neste ensaio e desde os primeiros instantes uma excelente impressão pela agilidade de que se mostrou capaz, respondendo a preceito sempre que foi preciso uma inversão de marcha em qualquer rua por mais estreita que esta se apresentasse. Depois, para além de ágil apresentou-se sempre veloz, ou melhor dizendo irrequieto, como um miúdo traquina sempre disposto a uma corridinha, fosse em modo normal ou em modo sport, saltando mesmo com facilidade para velocidades acima dos 120 Km/h permitidos por lei quando procurámos uma outra incursão em autoestrada, onde tivemos que nos disciplinar para evitar as sempre inconvenientes e desagradáveis multas por excesso de velocidade.
É claro que o pisar do acelerador resultou sempre no esgotar mais veloz da autonomia, mas ter o melhor dos dois mundos ainda é algo que não se revela possível nesta coisa dos automóveis 100% elétricos. Além disso, com o regresso à realidade do tráfego urbano, a capacidade de regeneração de energia deste modelo automóvel foi algo sempre presente que permitiu, senão aumentar a autonomia global, pelo menos compensar as perdas por um ou outro atrevimento maior em estrada solta.
Autonomias à parte, que nesta coisa dos modelos elétricos é porventura a primeira pergunta que é feita em redor da sua utilização, e que no caso do Honda e nos permitiu sempre realizar os tais 180 quilómetros por cada um dos dois carregamentos que tivemos que “gerir” com uma condução mista e descontraída, há um outro lado neste Honda e que lhe permite ser comparado com os tais telemóveis da Apple ou da Samsung referidos atrás. E não, nem sequer estamos ainda a falar do design, mas a tecnologia, que neste automóvel é uma constante capaz de prender a atenção de todos, seja o condutor, o passageiro ou o qualquer indivíduo que o vê passar.
Tecnologia que se estranha… mas que se entranha
No exterior, a ausência dos normais espelhos retrovisores começa desde logo por permitir a curiosidade de vermos como é que as coisas funcionam lá dentro. Aí, sentados ao volante, precisamos de alguma habituação para deixarmos de estranhar os dois ecrãs que aparecem nas extremidades do painel onde podemos ver as imagens captadas pelas câmaras laterais, mas depois de se estranhar a coisa até se entranha, ainda que faça sempre alguma confusão as imagens em movimento constante nas ruas mais estreitas onde a visão permitida por um espelho tradicional permite a ilusão de ótica de maior tranquilidade. Depois, o tempo do ensaio realizado não permitiu a total adaptação perante algumas situações reais de condução, como a saída de lugares de estacionamento perpendiculares à via em que a visibilidade é menor. Aqui o hábito faz o monge e tal como qualquer telemóvel a tecnologia revela-se intuitiva após meia dúzia de utilizações.
Por falar em telemóveis, e a exemplo do que chama a atenção naqueles pequenos aparelhos que quase por todo o lado tomaram conta do dia-a-dia de cada um, o potencial da carga tecnológica transportada por este Honda e revela-se também aqui não diremos no ecrã mas cinco ecrãs que acabam por formar o painel dianteiro ao dispor de condutor e pendura. Em termos práticos, e para além dos dois ecrãs de 6 polegadas que assumem o papel de espelhos retrovisores, surge ainda um ecrã de 8,8 polegadas que permite a apresentação do painel de instrumentos e dois ecrãs, cada um com 12,3 polegadas.
Nos dois maiores ecrãs torna-se assim possível “colocar” diferentes aplicações, desde o controlo do entretenimento à navegação ou as indicações da bateria do telemóvel… perdão, do automóvel… bem ao estilo afinal dos “widgets” dos nossos smartphones. Apostar no Apple CarPlay, no Android Auto ou simplesmente na capacidade de plasmar o nosso telemóvel em um dos ecrãs enquanto no outro utiliza o sistema de navegação da Honda, tudo isso se revela possível num veículo claramente engraçado, intuitivo e ao qual nos adaptamos com facilidade.
A somar a tudo isto, e no tal estilo minimalista e afinal tão simples que levou a Maria a apontar este como carro do Minecraft, o tal videojogo em que nem sequer há carros, o Honda e apresenta um design simples, com puxadores das portas embutidos nas laterais que se destacam perante a aproximação do utilizador, conjuntos óticos redondos em que a eficácia resulta dessa mesma simplicidade, jantes lisas que ajudam a preservar a autonomia e um acesso de grandes dimensões às fichas de carregamento que não engana quanto à condição elétrica do modelo sem destoar ou complicar a aparência global do que temos pela frente: um automóvel.
Habitabilidade é calcanhar de Aquiles
De regresso ao habitáculo, fichas USB, duas entradas 12 volts, uma tomada de 230 volts e uma ficha HDMI abrem o leque de utilização de diversos elementos, podendo até ligar no interior do Honda e uma qualquer consola PlayStation ou Xbox, podendo mesmo este automóvel funcionar como um hotspot. É claro que no capítulo da análise ao habitáculo encontramos alguns aspetos menos positivos, isto porque se a Maria com os seus já referidos 11 anos, se move bem dento do Honda e, o irmão Diogo, que aos 17 anos chega ao 1m90, tem grande dificuldade em se sentar de modo confortável e quando dá conta está a carregar com o joelho no botão que controla o aquecimento dos bancos colocado por baixo dos ecrãs no painel frontal. Pior do que isso seria tentar que o Diogo viajasse no banco traseiro, algo que definitivamente se revela impossível.
Na bagageira podemos transportar um volume de até 171 litros, o que para as movimentações urbanas será suficiente, sendo ainda possível aumentar a capacidade da bagageira com o rebatimento do banco traseiro permitindo aí o transporte de volumes até 861 litros.
Com um consumo homologado de 18 a 20 kWh/100 km, autonomia homologada de 218 km que dificilmente chega ainda assim aos 200 km, na realidade não chega às duas centenas de quilómetros, tendo o LusoMotores feito sempre os tais 180 quilómetros ao volante do Honda e, este modelo da marca nipónica impressionou por ser desde logo diferente. Num carregador rápido de 100 kW a bateria – com apenas 35,5 kWh – carrega em 30 minutos, mas por mais 2.500 euros pode ter o motor com 154 CV e um binário de 315 Nm. Valerá a pena por isso, gastar mais 2.500 euros mas ter mais potência, mais binário e mais equipamento, para um Honda e que passa a chegar dos 0-100 km/h em 8,3 segundos.
Tem falhas, e a maior delas neste Honda e será o espaço exíguo no habitáculo, principalmente para quem viaja atrás, mas para uma família com duas crianças que, por serem mais pequenas, possam viajar no banco traseiro, a resultado final pode ainda assim ser positivo pois nem todos os miúdos são jogadores de basquete ou voleibol. Ainda assim, será caso para dizer que a lotação deste pequeno citadino da Honda é de 2+2, sendo que os dois para o banco traseiro deverão ser infantis, principalmente se os adultos à frente forem já de estatura média.
Notas finais
POSITIVO… |
Design |
…OU NEM POR ISSO |
Autonomia |
Confortável, deslizando com um “pisar” quase impercetível para quem vai a bordo, facilmente cativa ao fim dos primeiros quilómetros rodados, e se é verdade que a autonomia não é o ponto forte deste elétrico, também é verdade (ou deveria ser) que aqueles que precisam de fazer grandes distâncias com regularidade nem sequer devem equacionar a opção por este tipo de veículos automóveis.
Depois, e porque um dos fatores primordiais na decisão final da compra de um automóvel é o seu preço, ao olharmos para este Honda e e perante os 38.500 euros que nos são pedidos (ouch!), a primeira reação é dizer que é caro. Porém, após alguma reflexão, das duas uma: ou estamos mesmo apaixonados pelo carro, a nossa carteira até tem alguma flexibilidade e que se dane o resto, ou pensamos um pouco, somamos os prós e os contras, olhamos para o enorme potencial tecnológico do Honda e e acabamos por querer um automóvel que faça “pendant” com o nosso telemóvel. Perante qualquer um dos caminhos, a opção pela compra justifica-se sempre… se assim o entender!
FICHA TÉCNICA | |
Motor |
Tipo: assíncrono, elétrico |
Transmissão | Traseira, com caixa dupla de relação única |
Direcção | Pinhão e cremalheira assistida eletricamente |
Suspensão (ft/tr) |
Independente multibraços |
Travões (fr/tr) |
Discos ventilados/discos |
Prestações e consumos | |
Aceleração |
8,3 |
Velocidade máxima (km/h): | 145 |
Consumos misto (kWh/100 km): | 18-20 |
Emissões CO2 (gr/km): | 0 |
Autonomia (km) | 215 |
Dimensões e pesos | |
Comprimento/Largura/Altura (mm): | 3894/1752/1512 |
Distância entre eixos (mm): | 2530 |
Largura de vias (fr/tr mm): |
1520/1515 |
Peso (kg): |
1537 |
Capacidade da bagageira (l): |
171/857 |
Bateria (kWh): | 35,5 |
Pneus (fr/tr): |
205/55 R17/225/45 R17 |
Preço da versão base (Euros): |
38.500 |
Preço da versão Ensaiada (Euros): |
38.500 |