Sou professor de letramento digital no Colégio Visconde de Porto Seguro, em São Paulo (SP). Todo ano fazemos um planejamento de como os estudantes vão aprender a utilizar a tecnologia em um aspecto mais amplo, que envolve desde cultura digital até programação.
No início das aulas remotas, percebemos que seria preciso reforçar algumas práticas com os alunos e também falar do que costuma ser chamado de netiqueta, a etiqueta dentro do ambiente virtual. Para isso, criamos um mundo no Minecraft, quase que como um jogo de tabuleiro e compartilhamos com as turmas.
Ao invés de utilizar o PowerPoint ou apenas conversar, construímos uma jornada do herói ético. Com uma série de recursos do jogo, como lousas, portais e personagens, percorremos diferentes estações e cenários desse mundo para falar sobre a forma correta de se comportar, como e quando abrir o microfone, saber falar e colaborar para que tudo ocorresse direito.
Durante o período de aulas remotas, também utilizamos o Minecraft de formas diferentes para trabalhar conteúdos da disciplina. A turma dos anos iniciais do ensino fundamental, por exemplo, trabalhou com o jogo em uma atividade mão na massa que envolvia a elaboração de um circuito. Além deles receberem o material físico em casa, o jogo serviu como uma estratégia para complementar a experiência.
Para reforçar conceitos de computação física, fizemos uma maquete virtual com os alunos. A proposta era compreender o percurso que a internet fazia, desde os servidores até a nuvem e o roteador para chegar ao computador de cada um. Eles construíram e simularam todo esse percurso dentro do jogo. O Minecraft ajuda no processo de abstração e visualização.
Outro exemplo muito legal é de como usar o jogo como suporte ao ensino de programação. Não apenas com os blocos, mas também com a possibilidade de trabalhar linhas de de código, como Java e Python.
Além de todas essas experiências que eu contei, o Minecraft também possibilita uma série de outras criações. Recentemente, eu montei dois laboratórios virtuais no jogo para apresentar no Pink of Milk, versão do Pint of Science para crianças, e para na Semana da Ciência Nuclear. É muito fácil de mexer, com um botão do mouse você coloca blocos e com o outro você tira.
Para começar a usar na sala de aula, basta jogar e colocar a mão na massa. O professor pode encontrar diversos vídeos no YouTube com exemplos de atividades. Só de falar sobre e mostrar um vídeo para os alunos, já é uma porta para trabalhar com o Minecraft. Você não precisa necessariamente jogar para dar início a uma atividade como essa.
Existem muitas possibilidades que chamam a atenção dos estudantes. O Minecraft é um jogo, mas ele também pode ser um veículo para o aluno expressar sua ideia, se relacionar com o conteúdo e aprender brincando. A palavra principal é experimentar.
Francisco Tupy
Professor de Letramento Digital do Colégio Visconde de Porto Seguro; É doutor e mestre em aplicação de videogames na Educação e Comunicação pela ECA-USP. Tem formação em ensino e aprendizagem pela Krishnamurti Foundation of America/UCSB (Califórnia, EUA). Aborda temas como Letramento Digital, Fundamentos dos Jogos, Game Design / Gamificação e Criatividade. Responsável pedagógico pelo projeto #HistoryBlocks da UNESCO (utilizando o Minecraft e presente em mais de 100 países). Em 2018, foi indicado à medalha Darcy Ribeiro.