Com origem no League of Legends (LoL) e ápice no Fortnite, Rainy acumulou diferentes atribuições ao longo de mais de dez anos de ligação com esports. Aos 25 anos de idade e à la Ronaldinho Gaúcho, ele já trabalhou no Paraguai em prol da consolidação no cenário gamer e abdicou do sonho de ajudar na classificação de um pro player à Copa do Mundo do Fortnite para, enfim, se encontrar tanto como criador de conteúdo, quanto como caster da Fortnite Champion Series (FNCS) desde a Temporada 2 do Capítulo 2 do game.
De experiência competitiva, Rainy se notabilizou como coach de profissionais importantes do cenário do Fortnite, como BlackoutZ, King, leleo e DrakoNz. Atualmente, ele não exerce mais a função, mas soma, ao todo, mais de 100 mil inscritos em seu canal do YouTube, além de quase 60 mil seguidores entre Twitter e Instagram.
Originário de Foz do Iguaçu, no Paraná, Rainy começou a se envolver com esports quando começou a jogar LoL, em 2011. Três anos depois, ele começou a fazer lives educativas sobre coisas relacionadas ao MOBA da Riot Games em que, na visão dele, as pessoas não prestavam muita atenção, principalmente no Brasil.
Rainy (Foto: Divulgação/Yves Martins)
Depois de um tempo, o lado financeiro pesou e, com no máximo 30 espectadores de média, Rainy decidiu parar de streamar e optou por buscar outro tipo de trabalho. Em 2016, no entanto, abdicou da decisão e voltou a streamar de novo, com a premissa de novamente conseguir atrair mais público através de grupos do Facebook. Ainda assim, ele afirma que “não tinha coragem de ir pro Youtube pois tinha vergonha de ser ridicularizado por pessoas mais conhecidas do cenário”.
No mesmo ano, Rainy saiu mais uma vez do ramo das streams ao tentar conciliar transmissões ao vivo com o trabalho em uma agência de publicidade. No caso, a indecisão perdurou e, após um mês e a consequente reprovação no período de experiência da empresa, desistiu de tudo até que, em 2018, conheceu o Fortnite através de uns amigos. A partir disso, foi amor à primeira vista. Além de não conseguir parar de jogar o battle royale da Epic Games, ele revelou que havia voltado a transmitir jogatinas diurnas de LoL, mas só conseguia pensar na chegada da noite para se aventurar no Fortnite durante as streams.
Desta vez com coragem, Rainy decidiu “bater na porta” de uma empresa do Paraguai para criar conteúdo para eles. Surpreendentemente, a oportunidade foi dada e ele passou a ser funcionário e criador de conteúdo da empresa, chegando a viajar diariamente do Brasil para o Paraguai e vice-versa. A coragem, no entanto, não foi suficiente e a parceria acabou não dando resultado.
Rainy (Foto: Reprodução/Instagram)
Em 2020, por outro lado, foi a vez de Rainy acertar na decisão: ele resolveu começar a gerar conteúdo de valor, porque acreditava estar cansado do bom e velho método bruto de, na visão dele, “streamar por várias horas e se divulgar de jeitos estranhos pela internet”. Diante disso, decidiu investir em clipes específicos para o Twitter com conteúdo educativo de Fortnite, já que, na época, tinha alguns seguidores populares na comunidade, como Netherboy, Ment0s e MelanyLee. O apoio deles fez com que o conteúdo dele gerasse engajamento e fizesse com ele ficasse esperançoso em seguir naquilo.
O receio de fazer parte do YouTube acabou e Rainy adentrou de vez na plataforma. Com o intuito de conciliar bons vídeos e thumbnails chamativas com nomes já famosos, o criador de conteúdo passou a lançar vídeos de pro players consolidados como BlackoutZ, King, Lasers e outros jogadores que iam ganhando campeonatos. Foi o primeiro que, inclusive, entrou em contato com ele elogiando o conteúdo e gerou uma exposição que praticamente consolidou Rainy dentro da comunidade profissional do Fortnite.
Sempre em busca de levar seu nome adiante e no sonho de trabalhar como análise, Rainy apostou em um novo segmento: passou a se intitular como coach e analista de Fortnite com objetivo de auxiliar na classificação de algum jogador para a Copa do Mundo da modalidade de 2020 ou de 2021, que não ocorreram. De início, ele começou na modalidade conhecida por live coaching, em que envolve o acompanhamento ao vivo do treinador diretamente com o jogador em um campeonato. Basicamente, nesse tipo de auxílio, Rainy acredita que “o jogador é a mecânica e o coach é o cérebro”, algo que não o agradou.
Em seguida, começou a operar no formato normal de coach, com revisão das partidas, rotina de treinos e tudo que envolva o lado fora do jogo. Para Rainy, “é muito melhor porque o treinador consegue rever a comunicação entre os jogadores, atribuir jeitos mais efetivos e menos problemáticos de comunicação, além de indicar melhorias de comportamentos para que o entrosamento da equipe fique melhor e os resultados aconteçam naturalmente”. Mas isso não foi o suficiente para convencê-lo a seguir na função. Ele afirma ter se chateado com a comunidade do game.
“Faz muito tempo que eu desisti de treinar jogadores, fui ficando muito triste com a comunidade em geral. No começo, as pessoas já criticavam o trabalho de técnicos por serem “randoms”. Hoje em dia criticam porque técnicos “não sabem de nada”. Não é um problema do Fortnite em si, mas eu não aguento esse tipo de descaso. Era todo dia um hate diferente. Acho que todo mundo concorda que pra trabalhar com a internet você tem que ter uma pele de aço, mas não é pra mim”, revelou.
Rainy (Foto: Divulgação/Yves Martins)
Além disso, Rainy conta que a disparidade de salário entre coach e jogador o influenciou a abdicar do sonho de seguir no cargo, já que no Fortnite as premiações são grandes, mas não costumam ser repartidas com a comissão técnica. Na criação de conteúdo, por sua vez, é o contrário. A partir dela, ele acredita ter mais controle sobre a própria carreira.
“Você treina o jogador, ainda mais no Fortnite onde a premiação é imensa e hoje o melhor trio leva um total de US$ 90 mil (cerca de R$ 460 mil), para organização te oferecer R$ 2 mil a R$ 3 mil por mês pedindo dedicação total. Isso não faz sentido pra mim e foi o último prego no caixão da minha vontade de querer ser coach. Criar conteúdo tem seus altos e baixos, mas pelo menos quem controla o seu sucesso e suas parcerias é você e mais ninguém”, concluiu.
Na Temporada 2 do Capítulo 2 do Fortnite, em 2020, Rainy aceitou o convite da Epic Games para ser caster da FNCS e, desde então, faz parte das transmissões do torneio. Em relação à parte competitiva do Fortnite, ele se sente agraciado por enxergar uma nítida melhora no cenário brasileiro em comparação com quando começou. Na visão dele, inclusive, o Brasil está à frente da região da Costa Oeste dos Estados Unidos, mas ainda abaixo da Europa, com bastante margem para evolução nas próximas seasons.
“Eu fico muito feliz como o Brasil melhorou desde a época que comecei. Éramos uma região menosprezada por todos e hoje somos a terceira maior região do mundo, estando acima da Costa Oeste dos Estados Unidos e logo abaixo do Nordeste dos Estados Unidos. Eu acredito que o nível da Europa é muito superior ao nosso e do Nordeste dos Estados Unidos, mas nossos campeonatos estão cada vez mais disputados com jogadores cada vez melhores’’, expôs.
Rainy (Foto: Reprodução/Twitter)
Especificamente na atual edição da FNCS, Rainy vê o torneio com bons olhos mesmo com apenas uma rodada de classificação realizada. Para ele, o recente ajuste na divisão das premiações proporcionou mais competitividade à competição, uma vez que os jogadores estão mais motivados e consequentemente mais competitivos.
“Nessa FNCS, vemos trios de jogadores que eu não sabia da existência executando estratégias muito sólidas e dando muito trabalho para jogadores Tier S do cenário que estão tendo que se reinventar. O campeonato parece muito mais competitivo pela loot pool mais ajustada ao competitivo, e também pelos jogadores aparentemente terem melhorado muito de uns meses pra cá. A qualidade de jogo do Brasil é muito boa’’, disse.
Como um bom caster, os populares palpites não poderiam faltar. Seguindo a linha da maioria da comunidade, Rainy crê que a experiência de jogadores já consolidados fará a diferença na atual FNCS e levarão vantagem sobre os rivais mais novos que, na visão dele, estão em extrema ascensão.
“Eu acho que os títulos do Seeyun falam por si só, mas não ter um nome forte como fragger no trio me deixa um pouco preocupado. Existem outros trios muito fortes que estão se consolidando ao longo dos meses, como OPai, gsx e Phzin, Kayky; Insano e Lord; e nov1ce, AG1RRE e dream. Se eu tivesse que apostar, iria na experiência dos jogadores antigos, já que as finais de FNCS são bem diferentes das classificatórias. Apostaria em Seeyun, Felipersa e EdRoadToGlory, Frosty, redlee e kurtz ou sheco, bagu e histtory”, finalizou.
Rainy durante transmissão da FNCS (Foto: Reprodução/Twitter)